"É a confirmação da retomada do Rio de Janeiro na atividade petrolífera" Décio Oddone Diretor-geral da ANP
O leilão de nove blocos da Bacia de Campos e de três da Bacia de Santos que estão em frente ao litoral fluminense deve trazer investimentos de US$ 100 bilhões ao Rio, além de participações especiais e royalties de US$ 90 bilhões, segundo a Firjan. A 15ª rodada de licitações da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que mostrou interesse renovado pela Bacia de Campos, vai representar investimentos bilionários no Estado do Rio de Janeiro. Considerando os nove blocos licitados na Bacia de Campos e ainda os três blocos da Bacia de Santos leiloados na semana passada que estão em frente ao litoral fluminense, a Firjan estima que os investimentos podem chegar à casa dos US$ 100 bilhões (cerca de R$ 330 bilhões) entre 2025 e 2035, e os royalties e participações especiais, após a entrada em produção das áreas, somariam US$ 90 bilhões até 2040.
Região mais tradicional de produção de petróleo em alto mar no país, em atividade há 40 anos, a Bacia de Campos estava sem oferecer novas áreas há uma década, desde que o governo suspendeu as licitações para definir um novo marco regulatório após a descoberta do présal. E foi justamente o potencial dessa nova província petrolífera que tornou essas áreas da Bacia de Campos, ainda que no pós-sal, tão atrativas, pois estão às margens do pré-sal.
No leilão da semana passada, pelo regime de concessão, o governo obteve uma arrecadação recorde de R$ 8 bilhões, dos quais R$ 7,5 bilhões vieram da Bacia de Campos. INTERESSE PELO ENTORNO DO PRÉ-SAL O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, destacou que a área onde ficam os nove blocos é considerada uma nova fronteira não explorada mais ao sul da Bacia de Campos, e distante das regiões onde historicamente se desenvolveu a produção no pós-sal. Para ele, o Estado do Rio poderá se beneficiar o desenvolvimento desses blocos.
- Boa parte das encomendas de equipamentos e serviços pode ser feita no Estado do Rio. Com as novas regras do conteúdo local (de encomendas), com o Repetro (regime tributário especial) funcionando, com os leilões acontecendo, o impacto na economia do Rio será relevante nos próximos anos. Tudo que está sendo feito é a confirmação da retomada do Rio de Janeiro na atividade petrolífera - destacou Décio Oddone.
Segundo projeções da ANP, o desenvolvimento dos nove blocos licitados na Bacia de Campos vai gerar investimentos entre US$ 8 bilhões e US$ 12 bilhões, e resultar no pagamento futuro para o Estado do Rio de pelo menos US$ 10,5 bilhões em royalties e participações Especiais (PEs). Os números são menores que os da Firjan porque tratam de estimativas preliminares e consideram os investimentos apenas em plataformas de produção. Especialistas afirmam, porém, que as áreas demandarão parte das encomendas de equipamentos, bens e serviços no Estado do Rio, dada a localização dos blocos.
Mas por que esses blocos na Bacia de Campos e Santos despertaram tanto interesse das gigantes petroleiras? O geólogo e especialista Pedro Zalán, da Zag Consulting in Petroleum, explica que esses blocos se encontram numa parte ao sul ainda não explorada na Bacia de Campos, afastada dos núcleos de produção atuais e em águas ultraprofundas. O geólogo destacou que estudos realizados por companhias de sísmica mais a leste do polígono do pré-sal, em águas ultraprofundas, principalmente na Bacia de Campos e depois na de Santos, concluíram haver a possibilidade de existirem gigantescas reservas de petróleo no pré-sal fora do polígono.
A área conhecida como polígono do pré-sal compreende 149 mil quilômetros quadrados no mar territorial entre os estados de Santa Catarina e Espírito Santo. O polígono foi demarcado após a descoberta das reservas gigantes do pré-sal e, ali, só podem ser feitos leilões pelo regime de partilha.
- Esses blocos leiloados na semana passada estão bem ao sul do núcleo de Campos e bem ao leste do núcleo de Santos, e muito mais distantes da costa. Era uma região remota e desconhecida, sem poços, sem linhas sísmicas, sem dado nenhum. A região fronteiriça entre as Bacias de Santos e Campos sempre foi "terra de ninguém" em termos exploratórios. E estão em águas profundas, a até 3.000 metros, então ninguém se interessava mesmo. Mas o fascínio pelo pré-sal capturou a indústria petrolífera mundial. Várias companhias de sísmica começaram a adquirir dados especulativos nas áreas fora do polígono para ver se era possível encontrar estruturas de pré-sal - explicou Pedro Zalán.
FIRJAN: AMBIENTE MELHOR FACILITA INVESTIMENTOS
Karine Fragoso, gerente de Óleo e Gás da Firjan, destaca que vem crescendo a pressão mundial pelo uso de energias renováveis e, por isso, é urgente o Brasil aproveitar o momento atual e transformar essas reservas de petróleo em riqueza e renda.
- São estimativas muito preliminares com base em campos de formações semelhantes, é um cálculo do potencial de investimentos para os dez primeiros anos do desenvolvimento da produção. Pelo menos 33% desses investimentos serão feitos no país, por conta das exigências do conteúdo local, ou seja, cerca de US$ 30 bilhões. E, desse total, o Estado do Rio de Janeiro poderá capturar uma boa fatia se tiver um ambiente melhor para atração desses investimentos - destacou Karine Fragoso.
A Firjan destaca que os investimentos previstos na fase exploratória para os próximos sete anos representam o compromisso mínimo dos consórcios vencedores, portanto, podem ser potencialmente maiores. Esses investimentos na fase exploratória já deverão resultar em demandas por: levantamento e processamento de dados geofísicos; perfuração, perfilagem, cimentação e completação de poços; estudos sísmicos; e afretamento e operação de embarcações especiais (sondas e apoio marítimo).
Fonte: O Globo